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Monday, November 8, 2010

Ovos

Radia da Aconcórdia é um tipo de instrumento que ninguém esquece. Está sempre em plena sintonia com os acontecimentos do mundo; os que lhe dizem respeito, e os que não lhe dizem, também.
Faz transmissão em todas as versões. Penso que as humanas, as mundanas, pois as outras, aquelas que transcendem a matéria,  essas são minhas. Sua sintonia não é das melhores, tem as ondas curtas. Ademais, esses instrumentos dependem da marca. Talvez seja de fabricação caseira. É um tipo que não se sabe se é pra ter raiva ou pena. Por quê? Pois mal os ovos se partem, a omelete está para a mesa, assim como o ar está para os seres. Só que dessa vez, a transmissão não é da Dona Radia, mas do galinheiro local. Por quê? Porque esses seres têm para com a vida, íntima relação, assim como o ovo tem para com a galinha.
Certa vez um ovo se formava. Mas não era um ovo qualquer, sabe, daqueles que nascem pintinhos. Era um ovo reverso, e isso basta!
E assim, Dona Radia esperava, esperava, observava. Se a galinha conseguiria botar o ovo ou não, pouco importava. Não se sabia claramente o seu intento. “Nossa, vai que algum galo soubesse... que as outras galinhas imaginassem”. Era melhor mesmo que a notícia não se espalhasse. Sem falar nos outros pintinhos. Mas em um terreiro, onde vários animais habitam, nada passa despercebido. Sobre a Terra há muitos mistérios, e sob a terra também. Um belo dia, após constante formação, o ovo inteirou-se. Quem iria imaginar que aquele ovo reversaria, e tão logo. Os outros ovos, pisoteados por dentro, se revoltaram. E acreditem, a clara e a gema, que sempre se mantiveram alheias, fundiram-se, e a omelete se estragou. Não alheias por distância, mas cada qual no seu devido lugar.
E é assim que todos imaginam que são os ovos. Observe-os nas caixinhas de dúzia e fora delas também. Aparentemente são todos iguais. Mas não se deixem enganar, é apenas e tão apenas casca. E o que é a casca além de algo que espera para ser quebrado? Nunca imaginei que um ovo fosse tão útil para tantas coisas. Porém, interessa-nos o seu conteúdo: clara e gema.
 “Clara, minha cara, sua transparência transcende. Gema, gema, um lema, às vezes um dilema”. A gema é um tipo que contamina a mais pura das claras. A depender do preparo, ela própria se confunde com a gema. E o que dantes fora o que um dia foi, nem cheiro nem gosto mais a distingue.
E para o galo descobrir qual clara e gema lhe pertence? Esquece!! Maldita omelete. Assim, os outros ovos, os não chocados, para não virarem omelete, só tinham uma opção: chocar-se ou virar ovo frito, ou mexido quem sabe, que ainda daria para distinguir.
Voltemos ao ovo principal. O ovo mal reversara e a ova já estava a fazer omelete. Segredo, hein! Delicadamente, após a mão mudar as coisas de lugar, cozinha à vista, frigideira limpa, muitos ovos se partiram. E o pior, nos dois sentidos. Uns viraram omelete, e outros, já sabendo o destino do ovo, ou melhor, do desovo no caso, rolaram em busca do terreiro. Cuidado! Os galos estão à solta. Ah, as galas também. E essas é que são perigosas. Atenção. Se vir uma gala se galeando, fique atento. Os ovos poderão ser pisados. Dona gala se galanteia e se apresenta sem crista. Esse é o primeiro passo. Quando os galos e os pintinhos, juntamente aos outros ovos estão bem convictos, a crista começa aparecer. Depois não vá dizer que não disse nada, porque estou fazendo um alerta. Quanto mais curta a crista parece, mais perigosa ela é. É como uma infiltração, primeiro vem uma poeira leve, leve, parece passageira. Depois, quando a camada está formada, a sujeira provoca rachaduras. Aí está o perigo. Abre-se uma fenda e aí... corra quem puder, o parasita se instala. É aí que a grande crista aparece. Por quê? Por quê?
Não precisava nem falar. Tem ovos que são ocos. Como será que a galinha consegue? Bem, isso não importa. O que importa é que a dona gala, após partir os ovos, pensa que pode adentrar o galinheiro pisando os ovos. Ha, ha, ha. Quanta ironia. Será que dona gala é digna de adentrar à “galada central”, mesmo prometendo pisar em ovos? O problema não é pisar os ovos, é prometer não parti-los, quando na verdade, promessa após promessa, é a primeira a pisoteá-los, pouco importando a omelete que vai dar. Deixa pra lá, isso é só uma das coisas. E pequena demais. O que importa é que quando o Dono de todos os ovos quiser saber o que foi feito com cada um deles, galos, galas e pintinhos prestarão suas contas.

 

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