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Tuesday, November 30, 2010

Poema: Partes

Porque ando pelas ruas
As luzes estão apagadas
As casas se mexem,
As pinturas descascadas.
Por que a lua se esconde?
E se perdem as estrelas?
Posso ver aos montes...
A escuridão acendê-las.
Por que são as pessoas passageiras?
Passageiras do tempo no tempo?
Todos passam e se espaçam,
Ocupam tanto e se vão,
Nos deixam sem brilho,
Nos tiram o chão.
Se desligam tão fácil
Como é bom partir...
Se partem os partidos
É difícil resistir.
Ficam todos oprimidos,
Uns não sabem pra onde vão,
Outros nem tem pra onde ir..
É! E estão todos a assistir...
Um mundo opressivo..
As guerras travadas..
As músicas são bombas,
Explodem e acendem as estradas.
Uns fogem do medo,
Outros do medo fazem terror,
Não sentem as vidas
Fê-las de horror.
Depois do massacre
Milagre não há mais,
Só sentem o desastre
Quando tudo se desfaz.
E começam novamente..
Aqui... e lá.....
As guerras se travam
Não podem parar.
E assim continuam..
Fervem-lhe o sangue
Estouram-lhe as veias
Até a humanidade
No espaço...
Virar um grão de areia!!



Sunday, November 28, 2010

Filosofando

Nem tudo deve ser revelado, nem tudo pode ser proibido. A humanidade é uma dádiva divina, perfeita em forma, desnuda em conteúdo.

Wednesday, November 24, 2010

O galo à corda

A paisagem era linda: lagos, patos nadando, galinhas ciscando, pássaros voando, vacas pastando e um lindo pomar.
Lina adorava a fazenda. Compreendia exatamente a função de cada ser naquele fim de mundo, ou melhor, começo de vida. As vacas davam leite, produzia-se queijo, as galinhas botavam ovos, e de todos os tipos, inclusive os ovos ocos da estação da Dona Radia. 
Mas algo parecia diferente naquele tranqüilo lugar. Havia alguma coisa perturbando Lina. O que seria? Até então as vacas não estavam pondo ovos e nem as galinhas dando leite!! Das árvores do pomar não nasciam vacas malhadas, tampouco galinhas. Se bem que seria interessante uma árvore dessas!!!
Será mesmo que Lina tinha visto algo estranho e não tinha se atentado o suficiente para perceber do que se tratava, ou seria um pensamento tirado da sua vasta imaginação?
Ela ficou encafifada com tal estória e resolveu fazer um relatório das atividades dos animais. Tudo bem com as galinhas, tudo bem com as vacas, e os patinhos continuavam nadando na lagoa. Mas havia algo errado com os galos, nada fácil de perceber, mas possível de se descobrir.
Os galos corriam atrás das galinhas, comiam milho, mas a música na fazenda estava estranha. Sim! A música que os galos cantavam todos os dias. E não foi que Lina descobriu o que era? Não se tratava de nenhum acorde fora do compasso, nem do timbre do cacarejo. Mas do horário que os galos cacarejavam. Ou melhor, do horário que o galo Trud cacarejava. Foi aí que Lina exclamou:
- Este mundo está perdido mesmo, até os galos estão se atrasando em serviço e olha que eles nem pegam trânsito!
Lina teve uma conversa franca com o galo Trud, mas nada. Em plena tarde ele se esgoelava de tanto cantar, como se o dia estivesse raiando. Foi então que ela teve uma idéia brilhante: colocou uma corda no corpinho do galo com um relógio tique-taque. E assim ele nunca mais perdeu a hora do show. Lina dava corda no galo todas as noites antes de dormir. O dia amanhecia, e Trud parecia um carrinho em velocidade máxima nas terras da Fazenda.
Truc-truc-truc: có-có-ri-có!!!!

Monday, November 8, 2010

Ovos

Radia da Aconcórdia é um tipo de instrumento que ninguém esquece. Está sempre em plena sintonia com os acontecimentos do mundo; os que lhe dizem respeito, e os que não lhe dizem, também.
Faz transmissão em todas as versões. Penso que as humanas, as mundanas, pois as outras, aquelas que transcendem a matéria,  essas são minhas. Sua sintonia não é das melhores, tem as ondas curtas. Ademais, esses instrumentos dependem da marca. Talvez seja de fabricação caseira. É um tipo que não se sabe se é pra ter raiva ou pena. Por quê? Pois mal os ovos se partem, a omelete está para a mesa, assim como o ar está para os seres. Só que dessa vez, a transmissão não é da Dona Radia, mas do galinheiro local. Por quê? Porque esses seres têm para com a vida, íntima relação, assim como o ovo tem para com a galinha.
Certa vez um ovo se formava. Mas não era um ovo qualquer, sabe, daqueles que nascem pintinhos. Era um ovo reverso, e isso basta!
E assim, Dona Radia esperava, esperava, observava. Se a galinha conseguiria botar o ovo ou não, pouco importava. Não se sabia claramente o seu intento. “Nossa, vai que algum galo soubesse... que as outras galinhas imaginassem”. Era melhor mesmo que a notícia não se espalhasse. Sem falar nos outros pintinhos. Mas em um terreiro, onde vários animais habitam, nada passa despercebido. Sobre a Terra há muitos mistérios, e sob a terra também. Um belo dia, após constante formação, o ovo inteirou-se. Quem iria imaginar que aquele ovo reversaria, e tão logo. Os outros ovos, pisoteados por dentro, se revoltaram. E acreditem, a clara e a gema, que sempre se mantiveram alheias, fundiram-se, e a omelete se estragou. Não alheias por distância, mas cada qual no seu devido lugar.
E é assim que todos imaginam que são os ovos. Observe-os nas caixinhas de dúzia e fora delas também. Aparentemente são todos iguais. Mas não se deixem enganar, é apenas e tão apenas casca. E o que é a casca além de algo que espera para ser quebrado? Nunca imaginei que um ovo fosse tão útil para tantas coisas. Porém, interessa-nos o seu conteúdo: clara e gema.
 “Clara, minha cara, sua transparência transcende. Gema, gema, um lema, às vezes um dilema”. A gema é um tipo que contamina a mais pura das claras. A depender do preparo, ela própria se confunde com a gema. E o que dantes fora o que um dia foi, nem cheiro nem gosto mais a distingue.
E para o galo descobrir qual clara e gema lhe pertence? Esquece!! Maldita omelete. Assim, os outros ovos, os não chocados, para não virarem omelete, só tinham uma opção: chocar-se ou virar ovo frito, ou mexido quem sabe, que ainda daria para distinguir.
Voltemos ao ovo principal. O ovo mal reversara e a ova já estava a fazer omelete. Segredo, hein! Delicadamente, após a mão mudar as coisas de lugar, cozinha à vista, frigideira limpa, muitos ovos se partiram. E o pior, nos dois sentidos. Uns viraram omelete, e outros, já sabendo o destino do ovo, ou melhor, do desovo no caso, rolaram em busca do terreiro. Cuidado! Os galos estão à solta. Ah, as galas também. E essas é que são perigosas. Atenção. Se vir uma gala se galeando, fique atento. Os ovos poderão ser pisados. Dona gala se galanteia e se apresenta sem crista. Esse é o primeiro passo. Quando os galos e os pintinhos, juntamente aos outros ovos estão bem convictos, a crista começa aparecer. Depois não vá dizer que não disse nada, porque estou fazendo um alerta. Quanto mais curta a crista parece, mais perigosa ela é. É como uma infiltração, primeiro vem uma poeira leve, leve, parece passageira. Depois, quando a camada está formada, a sujeira provoca rachaduras. Aí está o perigo. Abre-se uma fenda e aí... corra quem puder, o parasita se instala. É aí que a grande crista aparece. Por quê? Por quê?
Não precisava nem falar. Tem ovos que são ocos. Como será que a galinha consegue? Bem, isso não importa. O que importa é que a dona gala, após partir os ovos, pensa que pode adentrar o galinheiro pisando os ovos. Ha, ha, ha. Quanta ironia. Será que dona gala é digna de adentrar à “galada central”, mesmo prometendo pisar em ovos? O problema não é pisar os ovos, é prometer não parti-los, quando na verdade, promessa após promessa, é a primeira a pisoteá-los, pouco importando a omelete que vai dar. Deixa pra lá, isso é só uma das coisas. E pequena demais. O que importa é que quando o Dono de todos os ovos quiser saber o que foi feito com cada um deles, galos, galas e pintinhos prestarão suas contas.