Sim, eu tinha razão, e
o tempo todo. Quantas razões desarrazoadas; quantas noções desacompanhadas!
Quanto mais terei que sentir o frio da noite? Porque as noites ainda me são tão
dormentes?! Tão cálidas?!
Que será melhor: sentir
o frio do céu abandonado, sabendo-o desolador, ou fingir que a noite não existe
e que ela não me assusta, quando a tua presença é que me falta? Será que o meu
Eu que não me pertence me deixaria enganar?
Porque não consigo ver
espelhos diante da porta d’álma do meu amado, mas abismos? Sim. Vejo neles
todos os abismos do mundo: descontrole, paixão, flores, sol, tempestades, e
porque não dizer alguns invernos?
Só não sei se os
invernos que vejo são aqueles que já se passaram, ou se aquela triste estação
foi a única coisa que fui capaz de enxergar esse tempo todo: a distância. Não a
distância terna, porque esta nunca existiu, mas a distância espiral. Somos
seres completamente perdidos, entregues e entorpecidos. Quem sabe?
Os segundos se passam e
as estrelas ficam cada vez mais distantes. Sinto-as resfriando. A escuridão
permeia o céu. Há um lastro de nebulosa pávido
ofuscando o sítio sombrio da noite! Branca é a cor da minha saudade. Meu
coração carece de cores, porque as que tenho não me pertencem, estão comigo para
presentear, apenas para presentear.